Americana Helen Keller, que neste ano
completaria 135 anos, aprendeu a falar e se transformou em porta-voz de pessoas
com deficiências, pacifistas e ativistas pelo voto feminino. Em seus discursos,
Helen Keller não economizava palavras e criticava duramente a classe política
dos Estados Unidos, a quem acusava de "governar apenas para os
ricos". Ela impressionava pela retórica, mas também pelo simples fato de
conseguir se expressar pela fala. A americana, que em 2015 completaria 135
anos, é a mais famosa cega surda do mundo. E seu caso de superação,
imortalizado na cultura americana, segue como um poderoso exemplo para as mais
novas gerações.
Nascida em junho de 1880, em Tuscumbia,
no Estado americano do Alabama, Keller perdeu a audição e a visão em consequência
de uma virose, quando tinha menos de dois anos. Na época, os médicos não
souberam explicar as causas, mas suspeita-se que ela tenha contraído febre
escarlatina ou meningite. A partir de então e até os sete anos, Keller só se
comunicava com a família através de gestos. Em uma tentativa de diminuir o
isolamento da filha, Kate Adams levou-a a um médico, que recomendou os serviços
de ninguém menos que Alexander Graham-Bell, o inventor do telefone, que
trabalhava com crianças surdas. Dele, ouviu a recomendação de procurar o
Instituto Perkins para Cegos, em Massachussetts. E foi lá que a menina conheceu
Anne Sullivan, uma ex-aluna transformada em professora e que, durante 49 anos,
seria uma companheira fiel de Keller.
A chegada de Sullivan transformou a vida
da menina: em abril de 1887,
a deficiente visual conseguiu fazer com que Keller
compreendesse a relação entre palavras e objetos - a professora usou uma bomba
d'água e o método de soletrar substantivos como "água" na palma da
mão da menina. Quatro meses mais tarde, Keller já conhecia 625 palavras. Aos
dez anos, dominava tanto o braille quanto o alfabeto dos surdos-mudos. Ela
também adotou um sistema para "ouvir" o que as pessoas lhe diziam -
colocava os dedos sobre os lábios do interlocutor para fazer leitura labial. Seis
anos mais tarde, já se expressava bem o suficiente para frequentar escolas
comuns e mesmo o Radcliffe College, instituição de ensino superior
"irmã" da Universidade de Harvard. Formou-se em Belas-Artes em 1904,
aos 24 anos. Seus estudos foram pagos pelo magnata do petróleo Henry Huttleson
Rogers, a quem Keller tinha sido apresentada por um de seus admiradores
famosos, o escritor Mark Twain.
Sempre acompanhada por Sullivan, Keller
iniciou uma rotina de campanhas pela melhoria nas condições de vida para
pessoas com deficiências visuais e auditivas. Em 1915, ela fundou um instituto,
levando seu nome, que desenvolve programas de prevenção para doenças oculares
ao redor do mundo. Viajou por pelo menos 25 países para dar palestras e
conhecer líderes. Nos EUA, conheceu 12 presidentes. Sua militância, no entanto,
abrangeu causas mais universais. Keller foi uma famosa sufragista (defensora do
direito feminino ao voto), pacifista e socialista convicta. Suas posições, por
sinal, fizeram com que ela fosse considerada uma radical e alvo de críticas por
parte dos setores mais conservadores da sociedade americana.
Isso, porém, não impediu seu
reconhecimento: sua história é contada no currículo escolar dos EUA. Keller
também escreveu 12 livros. Em 1961, uma série de derrames fez com que passasse
seus últimos anos de vida longe da vida pública. Mas ainda houve tempo para
que, em 1964, ela recebesse do então presidente Lyndon Johnson a Medalha
Presidencial da Liberdade, uma das mais altas condecorações civis dos EUA. Keller
morreu quatro anos depois. Seu corpo foi cremado, e as cinzas depositadas na
Catedral de Washington, ao lado de onde jazem as de Sullivan. Além de homenagens
domésticas, ela teve reconhecimento internacional, expressado também no fato de
haver ruas com seu nome em Portugal, França, Suíça e Israel. E mesmo no Brasil
- no bairro da Vila Mariana, em
São Paulo.